Quando o conhecimento atrapalha: como a compreensão pode prejudicar o bem-estar do grupo

Tempo de leitura: 4 minutos
Por Bia Chacu
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São PauloCompreender mais a fundo pode, por vezes, dificultar a cooperação, especialmente quando as pessoas se concentram em seus próprios interesses. Por exemplo, ao saberem dos riscos e benefícios reais de usar máscaras, algumas pessoas podem concluir que não vale a pena para elas individualmente, mesmo cientes das vantagens para a comunidade.

Os autores desenvolveram um modelo teórico chamado Jogo Base. Nesse modelo, dois jogadores fazem escolhas para maximizar suas recompensas pessoais. Aqui está um resumo do que acontece:

Cada jogador escolhe entre duas ações possíveis. Existem quatro combinações de ações ao todo, cada uma com recompensas diferentes. O objetivo é alcançar o maior ganho pessoal. Ter mais informações sobre essas escolhas pode tornar a cooperação mútua menos atrativa.

Esta situação se assemelha ao Dilema do Prisioneiro, no qual indivíduos devem escolher entre a cooperação mútua ou o ganho pessoal às custas do parceiro. Surpreendentemente, o estudo revelou que apenas uma melhor compreensão dos resultados pode gerar piores desfechos para todos os envolvidos.

Os autores sugerem que esses achados também se aplicam a situações do mundo real. Por exemplo, ao elaborar leis ou políticas, a falta de conhecimento sobre problemas futuros significa que devemos antecipar e planejar com cuidado. Eles destacam que muitas leis criadas para prevenir problemas futuros têm trazido grandes benefícios.

Basu e Weibull convocam tanto os formuladores de políticas quanto o público em geral a serem proativos. É crucial agir agora para evitar problemas futuros decorrentes de avanços científicos. Eles destacam a necessidade de implementar salvaguardas contra possíveis efeitos negativos do novo conhecimento, mesmo que ainda não saibamos exatamente quais devem ser essas medidas.

Indivíduo vs. Grupo

O estudo revela uma tensão entre as ações individuais e o bem-estar do grupo. Quando as pessoas se concentram no ganho pessoal, os benefícios coletivos podem ser prejudicados. Isso ocorre quando os indivíduos usam seu entendimento mais profundo de uma situação para priorizar seus próprios interesses. Aqui estão alguns pontos-chave do estudo:

  • O aumento do conhecimento pode levar a comportamentos egoístas.
  • As decisões individuais nem sempre estão em sintonia com os interesses do grupo.
  • As oportunidades de cooperação podem ser negligenciadas.

Compreender a ciência por trás do uso ou não uso de uma máscara facial pode levar a decisões que favorecem o conforto pessoal em detrimento da saúde pública. Este estudo indica que, quanto mais algumas pessoas sabem, menos elas cooperam para o bem comum. Quando os benefícios pessoais são claros e imediatos, eles frequentemente ofuscam os ganhos coletivos potenciais.

Título: Imbalance of Knowledge in Group Dynamics

A pesquisa apresenta o conceito de "maldição do conhecimento", quando ter mais informações nem sempre resulta em melhores resultados para todos. Quando apenas algumas pessoas detêm esse novo entendimento, podem surgir desequilíbrios. Esses desequilíbrios levam indivíduos a tomarem ações que favorecem a si mesmos, muitas vezes em detrimento do grupo como um todo.

Os desafios na formulação de políticas

O estudo ressalta como a elaboração de políticas pode se tornar complexa. À medida que especialistas adquirem novas percepções, as políticas podem precisar de ajustes contínuos para evitar efeitos negativos decorrentes do aumento do conhecimento. Isso é complicado, pois prever problemas futuros com o conhecimento atual é difícil. A maldição do conhecimento obriga a repensar a maneira como utilizamos a informação para o bem comum. Mesmo que uma descoberta não altere as opções disponíveis, ela pode complicar a percepção das consequências. Essa mudança de perspectiva, às vezes, pode levar a resultados piores.

Embora o conhecimento traga poder, ele também pode gerar desafios na cooperação e na tomada de decisões coletivas. Reconhecer essa tensão é essencial para elaborar políticas e acordos sociais que garantam a distribuição equitativa dos benefícios do conhecimento.

Salvaguardas para a ciência

Para evitar os problemas causados pela "maldição do conhecimento", é necessário implementar medidas de proteção quando a ciência avança. Este estudo destaca como o conhecimento pode, sem querer, prejudicar o bem-estar coletivo. Aqui estão algumas estratégias a serem consideradas:

  • Incentivar a colaboração e comunicação entre as pessoas para garantir que o conhecimento seja benéfico para todos.
  • Desenvolver diretrizes éticas para orientar o uso da nova informação na sociedade.
  • Criar políticas que priorizem o bem-estar coletivo em vez do ganho individual.
  • Promover a educação e conscientização para ajudar as pessoas a entenderem o impacto mais amplo de suas escolhas.

O estudo de Basu e Weibull sugere que o conhecimento pode, em algumas situações, fazer com que o interesse próprio supere o interesse coletivo. Essa ideia tem implicações no mundo real, pois as pessoas frequentemente tomam decisões baseadas em sua compreensão dos riscos e recompensas. Quando esse conhecimento não é aplicado de forma sensata, os resultados podem ser desfavoráveis para o grupo.

Refletir sobre medidas de saúde pública, como o uso de máscaras, é importante. Quando as pessoas percebem apenas o custo pessoal e não compreendem o benefício coletivo, podem optar por não aderir. O desafio está em garantir que os avanços científicos não resultem em uma falta de cooperação.

A ciência é fundamental, mas deve estar aliada à previsão. Antever problemas futuros e estabelecer medidas para evitar possíveis consequências negativas é essencial. Estruturas éticas e políticas podem ajudar a equilibrar as ações individuais com as necessidades coletivas.

Guiar o uso do novo conhecimento com uma estratégia abrangente pode mitigar efeitos adversos. Conforme a ciência continua a desvendar mais verdades, é crucial que estabeleçamos proteções para evitar danos causados por seu uso indevido. Reconhecer o potencial impacto negativo do conhecimento científico nos leva a reforçar essas precauções e garantir o bem-estar coletivo.

O estudo é publicado aqui:

https://royalsocietypublishing.org/doi/10.1098/rsos.240358

e sua citação oficial - incluindo autores e revista - é

Kaushik Basu, Jörgen Weibull. A knowledge curse: how knowledge can reduce human welfare. Royal Society Open Science, 2024; 11 (8) DOI: 10.1098/rsos.240358

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